Inteligência Artificial favorece quem tem repertório profissional

Tecnologia como aliada da experiência: por que o repertório profissional será o diferencial na era da Inteligência Artificial.

Em uma conversa recente no podcast “IA Todo Dia”, com meu colega Diego Sommer, debatemos um dos temas mais pulsantes do mercado atual: o futuro do trabalho diante da ascensão da Inteligência Artificial. Dessa troca surgiu uma convicção que carrego comigo — e que considero crucial para profissionais atentos às transformações em curso: a IA não veio para nivelar talentos por baixo. Ela veio para amplificar o que cada um já construiu em termos de trajetória, visão e capacidade de julgamento.

Pense na tecnologia como um amplificador. Ela potencializa a voz de quem já tem algo relevante a dizer. Isso significa que a experiência acumulada não só continua valiosa, como se torna ainda mais estratégica. Ferramentas baseadas em linguagem natural, algoritmos preditivos e modelos generativos são catalisadores poderosos, mas seu impacto depende diretamente da maturidade de quem os opera.

Como consultor de carreira, acompanho líderes que comandam equipes intergeracionais — muitas vezes com profissionais mais experientes do que eles próprios. E é nesse contexto que uma mudança de mentalidade se torna decisiva. Em vez de substituir conhecimento sênior por novas habilidades técnicas, o caminho mais inteligente é integrá-los. Capacitar talentos experientes para explorar a tecnologia com intencionalidade transforma décadas de vivência em ativos de alto valor: análises mais rápidas, mentorias escaláveis, decisões embasadas e ágeis.

Quando o líder se posiciona como facilitador da transformação digital — e não como agente de ruptura — ele ajuda a criar um ambiente onde experiência e inovação não competem, mas se complementam e se impulsionam mutuamente. Existe um discurso comum de que os mais jovens, por terem crescido imersos na tecnologia, estão automaticamente em vantagem no uso da Inteligência Artificial. É verdade que eles trazem fluência digital, agilidade e familiaridade com interfaces. Mas isso, por si só, não basta.

A capacidade de extrair valor real da IA exige repertório, senso crítico e leitura de contexto. E isso não se adquire com cursos rápidos ou experimentação casual — vem da vivência em projetos complexos, da passagem por ciclos econômicos diversos, da capacidade de antecipar impactos antes mesmo que os dados os revelem. A inovação ganha musculatura quando aliada à sensibilidade de quem já enfrentou decisões difíceis, liderou em tempos de crise e aprendeu a reconhecer padrões que a tecnologia ainda não sabe mapear. A união entre juventude digital e maturidade profissional é o verdadeiro diferencial competitivo.

As ferramentas de IA generativa são tão potentes quanto as perguntas que recebem. Quem tem histórico de liderança, de tomada de decisão sob pressão e de leitura sistêmica do negócio está naturalmente mais preparado para fazer boas perguntas — os famosos prompts. Isso gera resultados mais relevantes, diagnósticos mais precisos e insights com potencial de transformar o negócio.

Executivos experientes estão começando a usar IA para cruzar dados históricos com projeções de mercado em segundos. Especialistas transformam seu conhecimento em ativos escaláveis, utilizando modelos de linguagem para automatizar diagnósticos, gerar relatórios, antecipar cenários e disseminar expertise com amplitude inédita. A tecnologia não substitui o conhecimento — ela o projeta.

Para profissionais de RH, a resposta é clara: investir no desenvolvimento tecnológico dos colaboradores mais experientes é um movimento estratégico. Enxergá-los como multiplicadores — e não como peças obsoletas — é a chave para acelerar a curva de adoção da tecnologia dentro das organizações. Além disso, promover a integração entre gerações é uma vantagem competitiva real. Os jovens trazem o domínio das novas linguagens e a flexibilidade. Os sêniores, a capacidade de dar direção e propósito à tecnologia. Esse encontro de forças não é um desafio de gestão — é uma oportunidade de crescimento mútuo.

A tecnologia não veio para suplantar o fator humano, mas para amplificá-lo. O que separa quem cresce com a tecnologia de quem se perde nela não é a idade, mas a intencionalidade: saber usar ferramentas poderosas para resolver problemas reais com base em repertório sólido, visão estratégica e inteligência emocional.

O futuro do trabalho não será dominado por quem tem todas as respostas prontas, mas por quem sabe fazer as perguntas certas — e que, com isso, ganha mais tempo para ser cada vez mais humano. Portanto, se você já construiu uma trajetória rica, a IA pode levar seu talento muito mais longe.

Por Fábio Cassettari, sócio-diretor do Career Group. Publicado no Portal Mundo RH.

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